Em seu emprego anterior, ele trabalhava como instrutor de natação e salva-vidas no YMCA. Dava aula para alunos dos 8 aos 80 anos. Falando sobre as "frescuras" ou esquisitices do povo local, ele conta que estava dando as instruções iniciais para um grupo de
- Crianças, prestem atenção. Aqui na piscina não pode correr. Não pode mergulhar. Não pode empurrar o amiguinho na água. Não pode fazer xixi na água. Não pode...
Neste ponto ele é interrompido por outro professor que batia no vidro Ele o chamou e disse algo como:
- Isso não está certo. Você só fala para as crianças o que elas não podem fazer. É só não, não e não. Não tem como você ser mais positivo e dizer o que elas podem fazer???
Sempre que ele contava a história, ríamos do exagero dele, e da frescura do professor com essa coisa do positivo e tal. Sempre me fez sentido, achava mesmo frescura.
Mas recentemente comecei a mudar de ideia e entender mais essa diferença.
Lendo o jornal de SP, ví que caminhoneiros reclamavam da proibição de trafegar em muitas ruas de São Paulo. Ele argumentava que estava ficando sem opções de rotas para levar as mercadorias. A prefeitura de São Paulo vem, sistematicamente, probindo tráfego de caminhões para aliviar o trânsito. A ideia parece boa (ao menos pra mim, que não dirijo um caminhão), mas vamos analisar melhor.
O poder público, de forma geral (e especialmente em São Paulo) é especialista em criar regras para o povo. Regras e proibições. A contrapartida é que parece nunca vir. Por exemplo: A poluição e trânsito de SP é ruim. Ao invés de investir em parques e transporte coletivos, cria-se o rodízio de placas (restringindo seu direito à circular de carro). O caminhão atrapalha o trânsito. Ao invés de criar mais estradas e ferrovias, proibe-se o caminhão. Tempos atrás, motoboys com garupa assaltavam no trânsito. Ao invés de se prender os bandidos, cogitou-se proibir os garupas!!!
Observem as placas de trânsito a seguir:
A primeira placa, brasileira, nos diz o que NÃO devemos fazer. A segunda placa, canadense, diz o que PODEMOS (ou devemos) fazer. Ambas dizem exatamente a mesma coisa, mas de formas bem distintas.
O que quero dizer é que somos acostumados em conviver com "nãos" no Brasil. E acho que, talvez por isso, tenhamos essa a mania de sempre achar um jeito para quebrar regras. Sempre que aparece alguma coisa nova, serviço, produto, etc... Rapidamente pensamos: Mas se eu fizer isso, isso e aquilo, dá pra burlar assim! (evidentemente não são todos que o fazem, mas a maioria sabe como fazer se quiser)
E em um lugar com poucos "malandros" como o Canadá, nos espanta a facilidade de burlar as regras. Por exemplo: Quer andar de trem/metro sem pagar? É mole! Quer furar uma fila pra fazer qualquer coisa? Fácil! E acho que é por aí...
Penso que somos forçados a aprender como dar a volta nas regras para sobreviver no Brasil. No Canadá, acho que as regras são mais facilmente seguidas porque fazem mais sentido, e assim os habitantes não dispensam muito tempo pensando em como "dar um jeito". E disso sim eu sinto saudade.
Me faz falta a "falta de necessidade" de dar um jeito em tudo para sobreviver.