quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ir e Vir?

Gastar cerca de 2 a 3 horas por dia dentro do seu carro pode lhe trazer oportunidades interessantes. Sim, é verdade.

Nesse ponto, já conheço a maioria das rádios de SP, com ênfase nas rádios de notícia (sim, estou ficando velho... não escuto mta música). Sei até quando os locutores entram de férias, se o comentarista político está de bom humor, o que aconteceu na região de Carapicuíba ontem a noite... ou seja, estou informado.

Mas as vezes, até isso cansa. Daí, dentre uma buzinada de um motoboy e uma fechada do carro ao lado, sigo pensando na minha atual situação.

Lembrei hoje de uma conversa que tive com minha última chefe no Canadá. Ela é chinesa, mas mora nos EUA já a vários anos. Conversa pesada, eu estava comunicando a decisão de voltar ao Brasil e, evidentemente, minha demissão.

Ela ficou chocada e indagou:

- "Mas, o país (Brasil) mudou tanto assim nesses últimos tempos?" 

- Como assim? O que quer dizer? - perguntei.

- "Estou curiosa pra saber da violência, trânsito, poluição, etc, que vc comentava e reclamava... isso tudo está resolvido?"

Surpreso, respondi:

- Evidente que não. Mas não estou voltando pelo mesmo motivo que eu vim pra cá. Volto pela família e amigos queridos.

Ela ficou em silêncio por alguns instantes e disse:

- Espero que valha a pena (ela quis dizer, que a familia e amigos valham por todos os outros problemas)


Os que acompanham esse site, a essa altura, já sabem que não tenho mais tanta certeza. Quero dizer, continuo amando minha família e amigos daqui. Mas quanto mais tempo eu passo aqui, quanto mais mergulho nas coisas daqui, vou tendo a impressão que a troca talvez não valha tanto.

Acho que, como estou me "acostumando" com as coisas daqui, estou voltando ao mesmo estado de espírito que tinha antes de partir. Ou seja, insatisfeito e cansado com a situação geral...

Decisões importantes... Sei lá... nada é definitivo na vida e a única certeza que temos é a morte. Não é o primeiro dilema que passo na vida... Felizmente não tenho problemas em mudar de opinião e de rumos...

Só que essa "próxima" decisão, seria (ou será) emblemática. Hoje, sei o que é viver no Canadá, tendo uma vida boa... quase como um nativo. Sei também o que é voltar e sofrer para me adaptar. Ou seja, se decidir ir para o Canadá, a coisa seria "realmente" definitiva. Seria uma decisão muito mais certa (ou certeira) do que da primeira vez. Quando fomos, não sabia como seriam as coisas. Adaptação, emprego, idioma, frio, etc... tudo uma grande incógnita. Se eu decidir partir hoje, já é mto grande a certeza de que, dessa vez, é pra sempre.

Isso sim, é pensamento para muitos e muitos congestionamentos...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Saudades da minha vida...

Semana que vem completo 3 meses de retorno ao Brasil.

O que tenho a comemorar? Não muito...

Acho que, como tudo na vida, toda escolha implica em uma perda. E um ganho também, evidente.

Ganhei com o retorno o convívio com os entes queridos. O carinho próximo daqueles que lhe querem bem a todo momento. A convivência próxima, diária, é realmente importante e "impagável".

Ganhei uma oportunidade profissional fantástica. Estou fazendo algo que nunca fiz na vida, aprendendo muito e vendo muita coisa nova, diferente. E ainda de quebra, trabalhando em uma grande empresa que oferece todos os benefícios e estrutura para o trabalho.

Ganhei um mundo de oportunidades de coisas a fazer em SP. Opções de lazer, teatros, exposições, filmes, museus, restaurantes, etc... Impossível se manter atualizado com tanta coisa para se fazer por aqui!

Ok, mas e o outro lado. O que "perdi"?

Perdi o convívio com outros amigos tão queridos que aprendi a amar nos dois últimos anos. Me pego, quase diariamente, me lembrando de passagens ou situações com eles.

Perdi um pouco, ou quase toda (sendo sincero), tranquilidade. Seja dirigindo meu carro pelas ruas congestionadas onde sempre há o receio de ser assaltado. Seja atravessando a rua, com medo de ser atropelado. Seja em relação ao trabalho, já que trabalha-se muuuito mais aqui do que no Canadá. Onde mesmo quando não há muito trabalho a ser feito, a ordem é sempre ficar no escritório... (pra quê, não sei...)

Perdi, acho que toda, a qualidade de vida que tinha. Vida que aprendi a apreciar nesses dois anos e tanto. Vida que me permitia acordar "cedo"(7 e pouco) para correr pelo belo bairro onde morava. Me dirigia ao escritório perto das 8:30 da manhã e chegava lá em cerca de 30 minutos. Trabalhava o que tinha que trabalhar, cerca de 8 horas por dia, e saía as 17 e pouco... Estava cedo em casa, onde podia jantar e conversar com minha esposa, ou jogar meu volei semanal... ou sair com amigos... ou ir ao cinema... ou assistir o Canadiens jogar... ou dormir, sei lá.

Sinto que aqui tenho mais condições financeiras e familiares para tocar minha vida, mas não tenho tempo (ou mesmo vontade) de faze-lo. A falta de tempo pra mim me desgasta, e desanimo para fazer qualquer coisa "legal", ou pra mim...

Sinto saudade da minha vida tranquila, ou até mesmo pacata, de Montreal... Je me souviens...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Laços de família

“Os amigos são a família que nós escolhemos”, já dizia meu marido, na época de namorado, repetindo uma frase que lera em algum lugar. Essa frase não tinha tanto significado há dez anos, quanto tem hoje, pra mim.
Realmente não escolhemos a família em que nascemos e crescemos, mas depois de grandes, ainda que alguns tenham tido menos sorte no nascimento, somos nós que escolhemos aqueles que farão parte das nossas vidas e da nossa história e, de alguma forma, eles passam a formar essa família escolhida. E assim foi comigo. Tenho “amigos-família”!
Como diria um dos membros dessa minha família, por puro azar, nós nos conhecemos, mas eu diria que com muita sorte nós insistimos nessa amizade que hoje chamamos de família – nossa família canadense.
Final de semana passado, alguns de nós tivemos a oportunidade de nos vermos mais uma vez. Foi um encontro que havíamos planejado antes de “desimigrar”. Três deles estavam passando férias no Brasil e nós, desimigrantes, saímos de São Paulo diretamente pra “Behorizonte”.
Estávamos ansiosos por esse momento. Eu, particularmente, planejei mil coisas, visualizei cenas e imaginei que ficaria sabendo de todos os acontecimentos detalhadamente que havíamos perdido nesses dois meses. Minha esperança era de me sentir mais perto de todos, mais lá. Mas nada disso aconteceu! Nada do que eu tinha planejado (nem um pão de queijo sequer eu comi). Nenhuma cena vivida ou história nova ouvida. Nada! Tudo aconteceu bem melhor do que nos meus pensamentos mais otimistas.
Chegamos sexta à noite e desse instante até domingo, não fizemos outra coisa a não ser comer e conversar. Não era a conversa que eu pensava que seria, sobre fotos e fatos, mas a mesma conversa que teríamos se estivéssemos ainda em Montréal. Sobre a vida, sobre a morte, sobre pais, sobre filhos, sobre o nada e sobre o tudo. Assistimos um filme também, como seria normal numa tarde de domingo. Comemos mais um pouco.
No aeroporto, em meio ao caos aéreo, refleti sobre o final de semana e como ele não se encaixava em nada do que eu havia imaginado. Um misto de alegria e tristeza tomaram conta de mim. Fiquei muito feliz porque essa situação só demonstrava o quanto ainda fazia (e faço) parte dessa família, que eles não precisam me contar nada além do que já conversamos por email, skype e msn. Não somos diferentes porque voltamos (e era isso o que eu mais temia). Ao mesmo tempo, fiquei triste de saudade, por querer estar com eles mais e mais, pra jogar conversa fora, assistir um filme ou simplesmente combinar de comer pão de queijo e acabar tomando um capuccino no Tim Hortons. Pena que dessa vez faltou o Tim Hortons.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ilusão

Por: Bia Sallesse

Um grande medo que eu tinha antes de imigrar para o Canadá era o de não saber como manter as relações com as pessoas que amo e de quem estaria longe.

Antes de partir, tive a oportunidade de ouvir um pai falar sobre isso. Não se tratava de nenhum “guru” ou mestre da auto-ajuda, mas um simples pai, como o meu e o seu, que pode explicar que sua relação com seu filho que mora na Alemanha é praticamente a mesma de quando ambos estavam no Brasil. Ele não deixou de participar dos momentos e decisões importantes porque estava longe, a diferença é que, em vez de falar o que pensava e o que sentia pessoalmente, agora era via msn. Achei estranho na época, mas levei essa ideia comigo.

Confesso que, logo que cheguei, mil dúvidas passaram na minha cabeça, mas a decisão estava tomada e tinha que seguir em frente. Em meio a tantos pensamentos, lembrei-me do relato desse pai e, durante dois anos, observei como estava minha relação com meus pais e comparei-a com esses 30 anos de experiência que eu já tinha vivido.  Com o tempo, comecei a fazer o mesmo com meu marido e seus pais e uma amiga, que já conhecia antes de imigrar, e os seus.

Faço, aqui, minhas palavras as palavras daquele pai. As relações não mudam! Elas podem até sofrer alguma adaptação, pois não daria mais pra almoçar todo domingo na casa da mãe. Existe, sim, um filtro, baseado no que o narrador considera mais ou menos importante, o que é muito bom, pois não é preciso saber que a irmã da tia-avó operou as varizes, mas a essência continua e darei um exemplo logo em seguida.

Voltamos pro Brasil exclusivamente por causa de nossa família, que sofreu muito e visivelmente nesses dois anos de Canadá. Acho que por causa desse sofrimento todo, em algum momento minha experiência social foi esquecida e acreditei que as coisas seriam diferentes; que minha presença no Brasil seria indispensável (nunca é!). Mas, chegando aqui, só pude constatar o que já sabia – as relações não mudam!

Antes, acreditávamos que nos escondiam os fatos porque estávamos longe e não poderíamos ajudar muito. Aqui, constatei que nos escondem os fatos porque somos esses filhos amados (e talvez ingratos, como brincaria minha mãe) e, no fundo, no fundo, não faz a menor diferença, pelo menos aparentemente não, estarmos cá ou lá.

Esse é o sistema em que minha família está calcada. Se fosse uma família que compartilhasse mais, talvez eu tivesse exercitado o ajudar, e talvez o conviver, à distância. E olha que seria um belo exercício! Afinal, à distância, somos “obrigados” a desenvolver a criatividade, muitas vezes dormente, pra sermos capazes de demonstrar o quanto amamos aqueles que nos são tão caros. Buscamos gestos e palavras, às vezes não muito utilizadas, que provavelmente não buscaríamos se convivêssemos pessoalmente.

Por outro lado, a família da minha amiga é do tipo “super compartilhadora”. Eles se encontram na net, três vezes por semana, e conversam por horas, contando todos os detalhes da vida, independentemente de estarem no mesmo ambiente ou não. Eles não tem o toque, mas mantêm o conviver e o compartilhar.

No fim, quando estávamos lá temia perder essas relações que tanto prezava. Agora que voltei, questiono-me se a distância seria mesmo capaz de matar aquilo que construímos fortemente ao longo de uma vida. Começo a achar que era pura ilusão.