sábado, 17 de novembro de 2012

Tá tudo normal! Normal!

Ontem fomos à um restaurante com um casal de amigos. Esse casal de amigos recebia amigos também, que moram em SP e vieram passar uns dias por aqui.

Boa comida e boa conversa, a noite foi muito boa. Até que durante as conversas sobre o Brasil (SP), quisemos saber como anda a situação por lá após a "onda de violência" que assombra a cidade.

Eles comentaram das estatísticas, das centenas de pessoas mortas nas últimas semanas e do clima pesado que ronda a cidade.

"Eles estão perseguindo e matando policiais. Chegam até a invadir a casa do policial!"

Me senti mal, muito mal com isso. Não por mim, claro. Mas por todas as pessoas que amo e prezo que vivem por lá. O "pacato cidadão" acaba sendo penalizado com a falta de liberdade e o perigo.

Mas acho que o que mais me assustou foi uma das frase que ouvi dos amigos paulistas:

- "Mas tá tudo bem, tudo normal!", "Essas coisas só acontecem na periferia, a gente nem vê nada"

Longe de bancar o protetor dos fracos e oprimidos (nunca lutei por causa nenhuma), fico triste em saber que a sociedade toda se acostuma com uma situação dessas porque está tudo longe dos olhos.

"Ah, é lá na favela né?"

São tantos os casos no dia a dia que a gente acaba ficando insensível. E cachorro mordendo carteiro não dá notícia, mas se o carteiro morde o cachorro... daí aparece no jornal! São tantos os casos de violência, que passou a fazer parte do cotidiano. Eu eu já fiz parte desse cotidiano, e era tão anestesiado quanto todo mundo que vive por lá... Ficar fora da panela de pressão te dá outra perspectiva, outra visão... e talvez por isso me sinta tão mal agora...

Mas por outro lado, é difícil nadar contra a maré. Me imagino se um dia decidirmos voltar ao Brasil novamente... Acho que se vc não se deixar levar, vai se cansar ou ficar louco. Daí todo mundo desiste.

Enfim, escrevi e escrevi e não disse nada. Vou ficar por aqui e desejar boa sorte a todos que enfrentam a guerra que é viver em SP. Que Deus proteja a todos.


domingo, 15 de janeiro de 2012

Um ano depois, muito aconteceu

Esse blog foi sempre um lugar de desabafo sobre a readaptação da volta ao Brasil. A idéia sempre foi de escrever algo para avisar ao (incautos) amigos imigrantes das dificuldades do retorno ao Brasil.

A verdade é que eu nunca achei que ninguém lesse muito os textos, era uma coisa para um pequeno grupo de amigos e conhecidos.

Aparentemente, não era o caso. Fiquei sabendo que mais pessoas liam os textos aqui... Tipo o amigo do amigo, o vizinho do primo, etc...

Agradeço a todos pelos elogios (indiretos) que recebi. Valeu mesmo!

Espero poder voltar a escrever, é algo que gosto de fazer... Talvez meus textos sejam um pouco diferentes, já que muita coisa aconteceu nesse último ano. Voltei para minha querida Montreal, com o tabarnak do francês, o coulis do frio e com todas as coisas de se morar aqui... tranquilidade, qualidade de vida, etc etc.

Acho que por enquanto é isso. Em breve posto algo novo por aqui!

abs

Adilson

sábado, 11 de dezembro de 2010

Amigos para sempre

Depois da decisão de voltar, me peguei pensando (muitas vezes) nos amigos que "deixamos" pra trás.

Pessoas ótimas que foram nossos companheiros e confidentes por dois anos e meio. Foram nossa família, nossos irmãos.

Pensei muito sobre como ficaria nossa amizade com a distância. Se esfriaria? Morreria? Seria apenas uma lembraça distante?

Pois que na semana passada eu estive em Brasilia a trabalho. Passei uma noite por lá, e aproveitei para entrar em contato com meu roommate "australiano". Ele é brasileiro e de Brasilia, nós dividimos um apto quando morei na Australia em 2003.

Quando retornei da Australia, o contato foi dimuindo, até que praticamente não nos falamos mais. Pelo menos uns 6 anos desde a última vez que o encontrei. Mandei um email e combinei de tomarmos uma cerveja para relembrar os velhos tempos. E foi muito legal mesmo! Seis anos é muito tempo, então teve papo várias horas para nos atualizarmos das coisas.

Voltei pra São Paulo duplamente feliz. Feliz por ter encontrado um velho amigo, e feliz por me dar conta que (Ok, vai soar clichê mas la vai) as amizades verdadeiras nunca morrem nem acabam. Aos meus amigos "canadenses", deixo aqui um forte abraço com muita saudade!!! Sabemos que pode demorar um pouco para nos encontrarmos de novo, mas tenho certeza que cada reencontro será como nunca tivéssemos nos separado!

Abraços de Amigo!

Adilsinho

P.S.: Já que estou em um momento "sentimental" e meigo, deixo aqui um texto que recebi do sr. Adilson
Amigos!

Um jovem recém-casado estava sentado num sofá num dia quente e  úmido, bebericando chá gelado durante uma visita ao seu pai. Ao  conversarem sobre a vida, o casamento, as responsabilidades da vida, as obrigações da pessoa adulta, o pai remexia pensativamente os cubos de gelo no seu copo e lançou um olhar claro e sóbrio para seu filho..

- Nunca esqueça de seus amigos, aconselhou! Serão mais importantes à  proporção que você for envelhecendo.. Independentemente do quanto você  ame sua família, os filhos que porventura venham a ter, você sempre  precisará de amigos. Lembre-se de ocasionalmente ir a lugares com eles; faça coisas com eles; telefone para eles...

Que estranho conselho, pensou o jovem! Acabo de ingressar no  mundo dos casados. Sou adulto. Com certeza, minha esposa e a família  que iniciaremos serão tudo o que necessito para dar sentido à minha  vida! Contudo, ele obedeceu ao pai. Manteve contato com seus amigos e  anualmente aumentava o número de amigos. À medida que os anos se  passavam, ele foi compreendendo que seu pai sabia do que falava e foi  sentindo que os amigos eram os baluartes de sua vida..

Passados mais de 50 anos, eis o que aprendeu:

O Tempo passa.

A vida acontece.

A distância separa.

As crianças crescem.

Os empregos vão e vêem.

O amor fica mais frouxo.

As pessoas não fazem o que deveriam fazer.

O coração se rompe.

Os pais morrem.

Os colegas esquecem os favores.

As carreiras terminam.
 

Mas..... os verdadeiros amigos estão lá, não importa quanto tempo e quantos quilômetros estejam entre vocês. Um amigo nunca está  mais distante do que o alcance de uma necessidade, torcendo por você, intervindo a seu favor e esperando você de braços abertos; abençoando sua vida!

Todos nós, quando iniciamos esta aventura chamada vida, não  sabíamos das incríveis alegrias ou tristezas que estavam adiante, nem  sabíamos o quanto precisaríamos uns dos outros.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Novidades? Nem tanto...

A (pequena) quantidade de posts aqui deixa claro que não tenho muitas novidades pra contar.

Acho que é meio como a história do sapo na panela quente... Se você joga o sapo em uma panela com água quente, ele sai pulando e "sofre". Se você coloca o sapo na panela com a água fria e depois coloca ao fogo, o sapo vai se acostumando e morre "calmamente".

Quando chegamos, acho que foi o pulo na panela quente. Fiquei muito triste e decepcionado (e nem sei o motivo, já deveria esperar os problemas que encontrei) com as coisas. Agora, acho que estou mais acostumado... Não que eu esteja satisfeito, mas acho que até a indignação cansa.

Quando comecei a escrever isso, era mais uma maneira de desabafar e alertar meus amigos e conhecidos no Canadá para os "perigos" de voltar. Não esperava ter leitores "desconhecidos", nunca escrevi para outras pessoas. É curioso saber que pessoas que não me conhecem leem os textos sem saber ao certo das piadas e ironias que eu coloco.

Vou me dirigir a alguns desses, que comentaram alguns posts recentemente.

Não, eu não acho que o Canadá é um mundo cor-de-rosa. Não acredito que seja o paraíso na terra (aliás, não acredito no paraíso no céu também, by the way) e que os canadenses são personagens de contos-de-fada.

Acredito sim que, com méritos próprios ou não, eles foram capazes de formar uma sociedade muito mais igualitária e humana. Disso eu sinto falta. Claro que há problemas com imigrantes, problemas internos, econômicos, enfim... Mas acho (ou tenho certeza) que é um ótimo lugar para se morar...

Felizmente fui bem recebido por amigos quando imigrei, conheci ótimas pessoas  e consegui bons empregos na minha área profissional. Tinha um padrão de vida equivalente ao daqui... Logo, teria algum motivo pra não gostar da experiência (e ter saudades)?

Sobre o último post, achei curiosa a exposição de um advogado ao defender a PEC da Felicidade. Bom, não muito a comentar aqui. Apesar de achar o "honrado" senador Cristovam Buarque um bom parlamentar, acho sim que a "nobre" lei é supérflua e desnecessária. Acho que é o tipo de legislação que cairia como uma luva em um discussão do parlamento sueco ou dinamarquês.

Nosso parlamento é conhecido pela sua ineficiência e pouca produtividade. E o pouco que se faz em ano eleitoral (menos de 6 meses de trabalho real) é uma lei desse tipo??? Por favor, como se não houvessem outros problemas maiores para resolver!

E uma pela outra, a gente nunca sabe se a lei "vai pegar"... Vai que a da lei da felicidade "não pega"?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Agora é lei!

Ahhhhhh... agora esse país vai pra frente!

Foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado a chamada "PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Felicidade"!!!

Para os que estão desatualizados sobre o assunto, clique aqui.

Agora sim fiquei tranquilo. Meu direito de felicidade está na Constituição. Que beleza, não sei nem por onde começo... Acho que a eleição do Tiririca veio a calhar, nada como um deputado "comediante" para aumentar a felicidade do povo.

Essa matéria é tão absurda que fica até difícil comentar. O Brasil é mesmo o país da piada pronta... Não precisa nem sacanear, a gente se "auto-sacaneia".

E o pior é que esse tipo de projeto a gente sempre espera de senadores "Fanfarrões", de partidos inexpressivos, políticos "anônimos"... Pois bem, essa tijolada veio do Cristovam Buarque, um senador tido como "sério"! Segundo ele, o objetivo é "carimbar no imaginário da sociedade a importância da dignidade humana"... (?!?)

Isso é proposta de emenda na CONSTITUIÇÃO! Caceta, não tem nada mais importante pra propor não? Maluco (senado e câmara) passa metade do ano fazendo campanha sem votar uma matéria importante. Quando volta faz o que? PEC da Felicidade? Faça-me o favor...

Isso é tão escroto que vou parar por aqui... a paciência está acabando...

domingo, 7 de novembro de 2010

"Violência" em Interlagos

Hoje teve corrida da F1 em São Paulo. Acompanhando o notíciário internacional para saber mais a respeito, me deparo com manchetes de como o piloto Jenson Button quase foi assaltado por 6 caras portando metralhadoras?!?!

Engraçado, não é uma notícia tão chocante para nós, já habituados com a violência e tal. Ele se safou sem perdas porque estava em um carro blindado, pilotado por um ex-policial. Acho que o que (me) chocou foi ter lido isso em sites internacionais.

Acho que é como falar mal do irmão. Eu posso falar do meu, mas se vc falar a gente briga. Logo, tendo a imprensa internacional reportando acontecimentos ruins do nosso "cotidiano" é ruim...

Foi reportado que integrantes da equipe Sauber também foram assaltados... Ok, pra eles foi só um fim de semana... e a gente que (sobre)vive aqui??? triste...

Segue uns links a respeito:
http://www.autoblog.com/2010/11/07/jenson-button-escapes-armed-attack-in-brazil/
http://www.autoblog.com/2010/11/07/sauber-engineers-also-ambushed-in-brazil/
http://www.digitaljournal.com/article/299911

domingo, 24 de outubro de 2010

Dizer não é dizer sim?

Um grande amigo irmão que mora em Montreal e trabalha com educação física no Canadá sempre conta uma história sobre o "jeito quebecois". Acho que a história é interessante e ilustra muito bem uma diferença fundamental entre o Quebec (ou Canadá) e o Brasil.

Em seu emprego anterior, ele trabalhava como instrutor de natação e salva-vidas no YMCA. Dava aula para alunos dos 8 aos 80 anos. Falando sobre as "frescuras" ou esquisitices do povo local, ele conta que estava dando as instruções iniciais para um grupo de pirralhos crianças prestes a entrar na piscina. A coisa ia mais ou menos assim:

- Crianças, prestem atenção. Aqui na piscina não pode correr. Não pode mergulhar. Não pode empurrar o amiguinho na água. Não pode fazer xixi na água. Não pode...

Neste ponto ele é interrompido por outro professor que batia no vidro Ele o chamou e disse algo como:

- Isso não está certo. Você só fala para as crianças o que elas não podem fazer. É só não, não e não. Não tem como você ser mais positivo e dizer o que elas podem fazer???

Sempre que ele contava a história, ríamos do exagero dele, e da frescura do professor com essa coisa do positivo e tal. Sempre me fez sentido, achava mesmo frescura.

Mas recentemente comecei a mudar de ideia e entender mais essa diferença.

Lendo o jornal de SP, ví que caminhoneiros reclamavam da proibição de trafegar em muitas ruas de São Paulo. Ele argumentava que estava ficando sem opções de rotas para levar as mercadorias. A prefeitura de São Paulo vem, sistematicamente, probindo tráfego de caminhões para aliviar o trânsito. A ideia parece boa (ao menos pra mim, que não dirijo um caminhão), mas vamos analisar melhor.

O poder público, de forma geral (e especialmente em São Paulo) é especialista em criar regras para o povo. Regras e proibições. A contrapartida é que parece nunca vir. Por exemplo: A poluição e trânsito de SP é ruim. Ao invés de investir em parques e transporte coletivos, cria-se o rodízio de placas (restringindo seu direito à circular de carro). O caminhão atrapalha o trânsito. Ao invés de criar mais estradas e ferrovias, proibe-se o caminhão. Tempos atrás, motoboys com garupa assaltavam no trânsito. Ao invés de se prender os bandidos, cogitou-se proibir os garupas!!!

Observem as placas de trânsito a seguir:

 

A primeira placa, brasileira, nos diz o que NÃO devemos fazer. A segunda placa, canadense, diz o que PODEMOS (ou devemos) fazer. Ambas dizem exatamente a mesma coisa, mas de formas bem distintas.

O que quero dizer é que somos acostumados em conviver com "nãos" no Brasil. E acho que, talvez por isso, tenhamos essa a mania de sempre achar um jeito para quebrar regras. Sempre que aparece alguma coisa nova, serviço, produto, etc... Rapidamente pensamos: Mas se eu fizer isso, isso e aquilo, dá pra burlar assim! (evidentemente não são todos que o fazem, mas a maioria sabe como fazer se quiser)

E em um lugar com poucos "malandros" como o Canadá, nos espanta a facilidade de burlar as regras. Por exemplo: Quer andar de trem/metro sem pagar? É mole! Quer furar uma fila pra fazer qualquer coisa? Fácil! E acho que é por aí...

Penso que somos forçados a aprender como dar a volta nas regras para sobreviver no Brasil. No Canadá, acho que as regras são mais facilmente seguidas porque fazem mais sentido, e assim os habitantes não dispensam muito tempo pensando em como "dar um jeito". E disso sim eu sinto saudade.

Me faz falta a "falta de necessidade" de dar um jeito em tudo para sobreviver.