terça-feira, 5 de outubro de 2010

Relações trabalhistas (e entre trabalhadores)

Dentre as infinitas diferenças que existem entre Canada e Brasil, uma que me dei conta (ou lembrei) recentemente foi na parte das relações trabalhistas.

Não sou advogado ou jurista, e teria dificuldade em dar detalhes "técnicos" sobre as diferenças. Vou passar as impressões de um trabalhador que já esteve em ambos os lados, nas mesma situação (empregado "registrado", com todos os direitos cabíveis).

De cara me salta aos olhos o protecionismo das leis brasileiras. Há diversos mecanismos de defesa dos diretos do trabalhador por aqui. O fundo de garantia, 13.o salário, FGTS, férias de 30 dias, multa para a empresa em caso de demissão, dentre outros. Isso tudo é muito bom para o empregado e ruim para o empregador. É como se o governo "paizão" forçasse as empresas a ter um papel mais social (não com o próprio bolso, claro), e protegesse os empregados. Não que eu considere por sí só a idéia ruim, longe disso. Só tenho a impressão que isso mutila a capacidade das empresas e empreendedores de empregar mais gente (legalmente).

No Canada, (ao menos até onde eu ví) poucos desses direitos existem. As empresas tem obrigações mínimas, enquanto a parte social fica com o governo. Acho que esse modelo favorece o emprego, mas prejudica os trabalhadores menos preparados, uma vez que esses tem menos margem de manobra ao negociar com o patrão.

Mas a grande diferença entre os países acho que está na relação entre os funcionários. Isso é evidente e gritante. Tenho tido a oportunidade de visitar diversas empresas e trabalhar com diferentes grupos. Vejo em todo lugar um clima de amizade e companheirismo que não experimentei no Canada. Pessoas fazendo brincadeiras e piadas entre eles, combinando planos para happy-hours e atividades, confraternizando enfim. No Canada, as pessoas são cordiais e educadas no escritório, mas não passam disso. Não tem cara sacaneando o outro quando este foi advertido pelo chefe, ou mesmo piada sobre o características físicas (gordo/magro/alto/baixo/vesgo/etc), apelidos.

Penso que a diferença é decorrente das diferentes etnias e grupos que encontramos em um escritório no Canada. Não dá pra apelidar o cara de "China", porque ele deve ser mesmo chinês e não vai entender. O mesmo vale pra chamar o outro de Pelé (negro), Fiat Lux (ruivo), Faustão (gordo)... rs* A maioria das piadas precisa de contexto, e esse é partilhado somente por pessoas do mesmo grupo.

Apesar da aparente "vantagem" para o jeito tupiniquim, tem uma coisa aqui que eu não aguento... A "forçada" amizade no escritório. Todo mundo é tão "amigo" que se sente no direito até de falar mal do outro... "Sabe o Zezinho, ele peidou no elevador ontem"... :S Quem me conhece sabe que nunca fui de fazer amizade em empresa. Sempre tratei todos com respeito e bem, mas nunca fiz questão de chamar alguem pra vir na minha casa. Conto nos dedos amizades no trabalho que persistiram ao fim do trabalho :D. A impressão que dá é que vc TEM que fazer parte da vida social da empresa, caso contrário vc é um loser. Não foi no happy-hour pq? Não gosta da gente? Na verdade não... não gosto, nem desgosto. Só prefiro passar menos tempo com vcs e mais com a familia e meus amigos REAIS. Pode ser que eu saia da empresa em breve, então pq se importar?

Acho que esse é o ponto que mais tenho saudade do Canada. Ia para o escritorio, trabalhava as horas estipuladas, fazia um breve intervalo para almoço (no escritório mesmo, com minha marmita... coisa rápida), trabalhava mais um pouco e RUA! Só gasto tempo no escritório para poder ter minha vida fora dele... logo, gastar mais tempo dentro dele é um grande contra-senso... não? :D

4 comentários:

  1. Acho que a descrição de ambiente sem piadas e mais sério pode ser mais característico no lado anglófono. Ao menos os meus colegas de equipe são bem brincalhões, quase como os brasileiros. Ouve-se risos de tempos em tempos nas outras equipes também. Dizem que os québécois são mais calorosos.

    ResponderExcluir
  2. Adilson,

    adimiro o seu blog porque é único, uma vez que sua história é única. Vc é uma pessoa que pode comparar os dois mundos de maneira isenta já que não voltou por frustração ou decepção e teve/tem sucesso lá e cá.

    Imigrar nunca foi meu sonho, vou te dizer qtue uma das principais coisas que me levou a sair do Brasil, é essa questão da relação de trabalho.

    As piadinhas e o ambiente "amigável" também serve pro chefe fazer aquela pressão. Quantas vezes ouvi tá saindo cedo (as 18h) tá desmotivado?

    Estamos num período crítico para a empresa, é hora de fazer mais com menos. Ou, vc tem que vestir a camisa da empresa? E quem veste a minha camisa?

    Tudo isso em tom de descontração mas sempre com a sombra de mandar vc embora e por outro no lugar.

    Aqui é exatamente o que vc falou. Cada um na sua fazendo o seu trabalho, happy hour e outros "eventos" são opicionais, e o tempo para a família é respeitado.

    No meu primeiro emprego, me espantei quando ouvi um cara avisar ao chefe que ia sair mais cedo (as 15:30) para buscar o filho na garderie. Aqui é uma razão aceitável. No Brasil é cara feia e horas descontadas. Espero que vcs resolveu seus problema e possam voltar ao Canadá se é o que faria vcs mais felizes...

    Sandro
    Os patos migram em bando

    ResponderExcluir
  3. Ola,
    Acho bastante interessante a ideia do blog do "desimigrante", mas nos brasileiros estamos bem mais acostumados a realidade no Brasil do que fora dele. Seria inocencia da nossa parte achar que iriamos encontrar um Brasil diferente quando voltamos depois da famosa experiencia em outro.

    Por acaso todas as coisas que voce cita no seu blog sao novidades pra voce? Depois de viver a maior parte da sua vida no Brasil e passar alguns anos no Canada voce esqueceu de como as coisas sao e funcionam no nosso pais?

    Voce ja considerou tambem as vantagens de estar de volta? Assim como imigrar, "desimigrar" tem vantagens e desvantagens. So nos resta decidir com quais desvantagens preferimos viver...

    Boa sorte!

    ResponderExcluir
  4. Olá!

    Seu blog tem um ponto de vista interessante. Poucas pessoas contam esse tipo de experiência.

    Eu sempre tive a certeza que depois de chegar ao Canadá, nunca mais voltarei (por opção minha) para um país de terceiro mundo.
    Mas eu já morei no mundo desenvolvido e tive que voltar. Isso resultou em puro sofrimento e incapacidade de adaptação; afinal, fácil é se acostumar com o que é bom!

    Quanto ao jeito dos brasileiros com os colegas de trabalho, eu considero os apelidos um caso de bulling, nada mais. E eles aprendem a conviver com isso desde a escola, por isso, acham "normal".

    Quanto aos direitos trabalhistas, não dá para usar a mesma régua pro Brasil e pro Canadá. Se não tivéssemos essas regras aqui, a exploração do trabalho humano seria muito maior do que já é hoje. E o que os trabalhadores ouviriam: "não quer não? tem quem queira!".
    Seria assim aqui.
    No Canadá, o mercado é outro, a história deles foi outra... Afinal, lá faltam pessoas, não é mesmo?
    Aqui sobram... sobram os excluídos. O exército de reserva, pronto para pegar o teu emprego! =/

    Boa sorte para você.
    Até!

    ResponderExcluir