segunda-feira, 19 de julho de 2010

Cidadã do Mundo

Por: Bia Sallesse

Na adolescência conheci a história de uma senhora polonesa que foi para o Brasil fugida da Guerra. Não sei o motivo, mas o fato é que essa senhora “perdeu” a cidadania polonesa e nunca se naturalizou brasileira. Continuou vivendo no Brasil assim mesmo até que um dia seu filho foi morar em França e ela resolveu visitá-lo.

Talvez tivesse se passado uns 50 anos entre o dia que ela saiu da Polônia e o dia que resolveu visitar o filho em França. A vida passou mais ou menos como a de todas as outras pessoas na média da época. Por todo esse período, ser polonesa, brasileira ou apátrida, como era o caso, não tinha gerado grandes consequências em sua vida. Mas agora a senhorinha queria ir pra França e precisava de um passaporte.

O pós guerra e todas as questões levantadas sobre direitos humanos não impediram uma mãe de visitar um filho por causa de um documento. Assim, a ONU expediu seu passaporte de apátrida. Pequeno problema pra passar na imigração francesa, mas nada grave, afinal, Paris pode ser a porta de entrada do Velho Mundo, mas não é todo dia que passa alguém com um passaporte amarelo por lá.

Eu estava junto com outras pessoas quando ouvi essa história. Como a maioria, fiquei atônita, mas diferentemente da maioria, não fiquei questionando sobre o motivo dela nunca ter querido uma cidadania. A minha grande questão era “como eu consigo um passaporte desses pra mim?”.

O fato de eu querer esse passaporte já refletia os caminhos que, consciente ou inconscientemente, eu escolheria seguir. Pouco tempo depois, eu estava embarcando pros Estados Unidos pra terminar o high school. Dois anos depois, eu voltei pro mesmo país pra um outro curso durante as férias da faculdade. Mais três anos e foi a vez de ir pra Europa, fazer um mestrado. Mais uns três anos, voltei para a América do Norte, só que dessa vez o destino foi o Canadá. Mais uma vez faço as malas pra voltar pro Brasil.

A diferença entre mim e as outras pessoas que ouviram aquela história é que elas olharam praquele passaporte e viram alguém sem raízes. Enquanto eu vi uma oportunidade de ter um documento que demonstrasse quem realmente eu sou: brasileira, de origem ítalo-espanhola, com educação americana-européia, ou seja, eu sou uma mistura de tudo isso e de mais um bocado de outras culturas que conheci nesse meio tempo, que só um passaporte amarelo poderia definir. Eu sou uma cidadã do mundo.

Um comentário:

  1. Excelente o texto Bia. TO impressionado. Os do Adilson também! Vcs tem muita coisa bacana pra dizer!
    Lu(o)

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